quinta-feira, 10 de outubro de 2013

Fonoaudiologia - motricidade oral voltada para cirurgia ortognática

Hoje vou falar sobre a fonoaudiologia. Para elaborar parte do conteúdo tive uma grande ajuda daquela que foi minha fonoaudióloga, a Dra. Priscila Abreu. Pra quem não viu a matéria, assista ao vídeo da FIOCRUZ em que ela é entrevistada (14:05) no post anterior.

Dra. Priscila Abreu sendo entrevistada pelo canal de saúde FIOCRUZ

Muita gente ainda não sabe, mas existe uma especialidade nessa área voltada apenas para reabilitação pós-cirúrgica: a motricidade oral ou orofacial. Partindo desse ponto, entende-se que não é toda fonoaudióloga capacitada para atender pacientes oriundos da cirurgia ortognática. Então já sabemos qual profissional devemos procurar. Somado a isso é importante que a fono especialista em motricidade oral tenha conhecimento da cirurgia ortognática e experiência em casos. Pra vocês verem como a profissional é bem específica.

Mas o que é essa especialidade e como atua?
É a área da Fonoaudiologia que estuda a musculatura dos lábios, língua, bochechas, face e as funções a elas relacionadas, como a respiração, sucção, mastigação, deglutição e fala, as chamadas funções estomatognáticas. Atua na prevenção, avaliação, diagnóstico e tratamento de pessoas com comprometimento destas funções e também pode atuar no aprimoramento da estética facial. (Fonte: Sociedade Brasileira de Fonoaudiologia)

É necessário o tratamento com a fono após ter passado pela cirurgia?
Sim, a fono é essencial para um recuperação mais rápida e eficaz. Segundo a Dra. Priscila a importância é em virtude de toda a estrutura ter sido alterada. A cirurgia mexe com a posição óssea e a musculatura sofre diretamente com a mudança. O nosso cérebro continua mandando informações ao paciente como se as arcadas ainda continuassem na posição anterior. Por essa razão, nos sentimos estranhos após a cirurgia, causando uma rejeição inicial e um certo arrependimento. Nessa hora que a fonoaudióloga entra, acomodando nossa musculatura e ajudando nas funções.

Por motivos financeiros, não posso custear um tratamento com fonoaudiólogo. O que devo fazer?
Se você fez a cirurgia através dos serviços públicos de saúde, como o Hupe, há um profissional especializado que irá atender gratuitamente. Mas se fez a cirurgia, assim como eu, parte particular e outra parte custeada pelo plano de saúde, ou seja, já gastou tudo, tá pobre, não tem dinheiro pra mais nada, tá com o bolso mais vazio que o mendigo da esquina, a minha resposta é que não há solução (risos). Ainda sim vai precisar separar um dinheirinho pra realizar algumas consultas, mesmo que poucas, só para ter as primeiras orientações.  Eu, por exemplo, fui a mais ou menos seis consultas (com ênfase na redução do inchaço, abertura de boca e acomodação muscular), recebi umas dicas de exercícios voltadas para o meu caso e, no fim do tratamento, dei continuidade em casa. Mas tem que ter disciplina! Se você sabe que não tem, é aconselhável ir mais vezes a fono até ela liberar. O ideal é que faça o tratamento por mais tempo. Mas se a grana tá curta, não vejo outra solução. É ir nas primeiras consultas e ter dedicação nos exercícios. Agora se o seu plano de saúde cobre o fonoaudiólogo, parabéns! Mas lembre de procurar aquele com especialidade em motricidade oral. O ideal é procurar a fono especialista da confiança do seu cirurgião. Tem a opção também de fazer o tratamento particular com a fono e solicitar reembolso pelo seu plano de saúde, se tiver. Aí procedimentos de reembolso procure saber como funciona na sua operadora de saúde. 

A fono especialista em motricidade e cirurgia ortognática é a única indicada para o tratamento?
Existem pessoas que andam procurando fisioterapeuta como tratamento complementar à cirurgia ortognática. Não é o correto! Os únicos casos em que é recomendado procurar esse profissional são pessoas com DTM (Disfunção Temporomandibular) ou paralisia facial. A fono é a única capacitada por uma fundamental e simples razão: a questão funcional. Como foi falado anteriormente a musculatura tem como função o sistema estomatognático (mastigação, deglutição, sucção e fala), logo, apenas a fonoaudióloga especialista é capacitada para avaliar essas funções, enquanto a fisio pode apenas acomodar a musculatura. Segundo Dra. Priscila, cada músculo tem sua funcionalidade, então, não adianta acomodar se a função não está adequada. Ela dá um exemplo bem prático: "A língua de um classe II tem posição diferente da língua de classe III. Com a cirurgia essa posição é alterada, já que a mesma se insere na mandíbula. Então, apenas a fono pode avaliar e reposicionar a língua, avaliar se a mastigação está sendo feita de maneira correta, se a língua está na posição certa para deglutir sem engasgos, se está fazendo corretamente os fonemas fricativos¹ e linguodentais²." Ela ainda completa que se todos esses fatores não forem trabalhados pode trazer recidiva, ou seja, o paciente pode voltar a ter o mesmo problema após a cirurgia com comprovação cientifica, por exemplo, uma mordida alterada. Agora já pessoas que possuem estalos associados a dor, podem procurar tanto uma fono como fisio. 

¹. Sons produzidos por meio do estreitamento da passagem de ar na boca. Exemplos: [f], [v], [s], [ch], [z], [x], [j] são consoantes fricativas.
². Sons produzidos quando a língua atinge o dentes superiores. Exemplos: /t/ e /d/ são consoantes linguodentais.

Quando posso começar o tratamento com a fono após a cirurgia?
Os pacientes quando passam pela cirurgia gostam de saber o tempo certo pra tudo (risos). Quando vou voltar a falar normalmente? Quando volto a abrir a boca? Quando vou conseguir mastigar carne? Quando dá pra voltar a beijar? Quando posso voltar a trabalhar, a fazer atividade física, etc, etc? É um turbilhão de dúvidas só voltadas para o quesito tempo. Normal! Até porque ficamos muitos ansiosos. Não há um tempo certo para voltar a fazer as questões citadas. É como se fôssemos bebês desfrutando de um novo aprendizando, só que no nosso caso, reaprendizado. E assim, como os bebês, os quais levam tempos diferentes pra começar a andar, falar, reconhecer objetos, também temos um tempo diferente para voltar a fazer essas "n" atividades que mencionei. Então quando alguém me pergunta quanto tempo, tomo como base o meu caso, que pode ser completamente diferente de outro paciente. O processo é tão lento e gradativo que muitas vezes comecei a fazer coisas como antes sem nem perceber. De vez em quando é bom se desligar um pouco do tempo, pois gera muita ansiedade....palavras de uma paciente experiente...rs

Mas voltando a pergunta, o tempo fica a critério do bucomaxilo e também de cada caso. Minha fono, por exemplo, já recebeu pacientes tanto com 6 dias e como como 30 dias, que é o período comum. Caso o paciente tenha alguma complicação pós-cirúrgica o buco pode liberar até com 45 dias. 

Estou preocupada com minha abertura. Qual a abertura ideal pro meu tempo de recuperação?
A abertura normal mínima dita na literatura é de 40mm a 45mm. Geralmente espera-se que o paciente com 60 dias já tenha 40mm, mas caso isso não aconteça ele deve estar com pelo menos 35mm. Agora caso esteja com 90 dias e ainda não alcançou a meta de 40mm é preciso investigar.

Fiz a cirurgia, mas ainda forço um pouco para selar os lábios. Isso é normal?
Sim. Depois da cirurgia acontece pelo que chamamos de fibrose. Ela é nada mais do que a cicatrização do tecido onde houve o edema, que não deixa acomodar a musculatura, dificultando o selamento labial. Por isso é importante fazer os exercícios com a fono para ela soltar e, até mesmo, aumentar a fibra. É possível com os exercícios alongar a musculatura em até 3 mm.

E para quem tem problemas na fala?
Aos que possuem problema na fala, segundo Dra. Priscila, 90% dos pacientes conseguem uma melhora só nas consultas com ela (motricidade oral). Os pacientes que persistirem com o problema (ex: voz anasalada) devem procurar uma fono especialista em voz. Os pacientes que mantiverem problema na articulação da fala devem procurar um especialista em linguagem ou até mesmo em motricidade oral voltado para projeção lingual. O tratamento pode dar um aspecto diferente pra voz. Não é o caso dos pacientes, como eu, que nunca tiveram problema na fala. 

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Essa foi mais uma postagem com dicas e respostas para muitas dúvidas. Obrigada Pri pela ajuda! No próximo post tem mais novidades.